5.25.2008

Small talk, "em que é que trabalhas?"


Já andava para mandar umas bocas acerca da coisa há uns tempos, mas o facto deste blog ter resvalado para tema único "poliamor" fez-me parar, até por medo das vozes reaccionárias que dissessem que "poliamorosos, promiscuos, prostitutas vai tudo dar ao mesmo". Mas entretanto nao me apetece escrever somente sobre poliamor. Ou melhor, o facto de me apetecer escrever quase sempre sobre poliamor faz-me querer escrever acerca de liberdade, nao conformidade e exercício rabugento de contestacao das fronteiras que a sociedade nos impoe, ás vezes mais por hábito do que por coerência moral.

Este nao vai ser um artigo coerente, em que as ideias estao estruturalmente encadeadas umas nas outras, mas escrevo de modo espontâneo, e quem quiser que me ature.

De algum modo, ao escrever sobre poliamor e ao viver poliamor, fui ganhando cada vez mais consciência de todas as merdas que nos condicionam, os tais regulamentos que a sociedade nos impoe, e que nós seguimos sem saber porque. Porque é que há coisas que sao erradas, porque é que há liberdades que sao mais ok do que outras, liberdades que sao mais teóricas ou mais concretas que outras, e outras que sao mais possíveis que outras?

Descobri, dentro dessa categoria, a minha simpatia pelas pessoas so called "trabalhadore/as na industria do sexo". Isso, sem saber nada da coisa, sem haver um motivo pessoal, nada. Simplesmente achando que levam com uma reprovacao em cima sem limites, e em segundo lugar por haver sempre um exército de psicólogos, polícias, padres, agentes sociais diversos dispostos a explicar "como é que eles/elas sao e porque" sem nunca lhes atribuirem uma voz e sempre dispostos a tratá-los de acordo com essa descricao. Um pouco como "as pessoas poliamorosas sao-no porque blá blá blá tem medo do compromisso blá blá", ou "as pessoas oriúndas de certos paises sao assim e assado blá blá blá".

Estive numa festa recentemente. a conversa era secante como em qualquer festa antes de haver o clique mágico que ninguem controla e que abre as comportas que tornam as conversas interessantes. Alguém perguntou por desfastio a alguém em que é que ela trabalhava. E ela respondeu, "sou domina", e de tal modo foi a resposta, cheia de naturalidade e autoconfianca que nao houve réplicas nem comentários nem tosses repentinas.

O lembrete e encorajamento para escrever sobre isto, agradeco ao blog
sexualidade feminina que até está na lista de links permanentes deste blog, através do artigo letters from working girls.. A imagem é um paddle da maravilhosa marca Coco de Mer.
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