6.30.2008

Conversas sobre Poliamor n'A Bixana


fica aqui o artigo que resume o que se passou nas "Conversas sobre Poliamor" de dia 5 de Junho, e que foi publicado n'a Bixana (zine das Panteras Rosa)

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As "1as conversas sobre poliamor" aconteceram na quinta-feira dia, 5 de Junho, na cooperativa cultural Crew Hassan, co-organisadas pelas panteras-rosa e poly-portugal. Sérgio (panteras-rosa) e Mónica (poly-portugal) introduziram e comentaram o conceito de poliamor, responderam a perguntas e tomaram parte na discussao animada, moderada pelo Joao Carlos, que se seguiu.

O que é poliamor.
Uma definicao possível é substituicao, em relacoes (em sentido lato), do mandamento da monogamia pelo da sinceridade (do indivíduo consigo próprio e com outros), podendo isto abrir caminho a formas diversas, e por enquanto menos habituais de relacionamentos, eventualmente com várias pessoas simultaneamente.

Motivacao
Estas conversas, como evento co-organisado, já estavam em preparacao há algum tempo, desde a 1a Marcha do Orgulho do Porto em 2006 (em cuja organisacao o poly-portugal participou), pela vocacao libertária e de contestacao de modelos únicos comuns a panteras e poly-portugal. Os recentes acontecimentos nas organisacoes das Marchas de Lisboa e Porto, devido precisamente a discussoes em torno do tema poliamor, tornaram estas "Conversas sobre Poliamor" ainda mais pertinentes.

Antecendentes
Ja houve e continuam a haver encontros mais ou menos regulares em torno de poliamor, em Lisboa e Porto, mas têem sido encontros de auto-ajuda e partilha de expêriencias entre pessoas em situacao semelhante, organisados por, e para o grupo poly-portugal e seus simpatizantes. Esta vertente de auto-ajuda e discussao é muito importante, pois sendo o poliamor um modo de vida em que nao ha papeis pré-determinados, as solucoes para eventuais problemas nao obedecem a scripts pre definidos, quase embedded no código social, como no caso das relacoes monogâmicas. Por outro lado, sectores maioritários da sociedade nem sempre vê com bons olhos uma vida nao monogâmica, o que tem efeitos negativos óbvios sobre quem pratique ou simpatise com este modo de vida (pressao mononormativa). As conversas aqui descritas, procuraram ser uma sessao de esclarecimento para activistas e público em geral.

Polyactivismo
O poliamor é um modo de vida válido e merecedor de respeito.
A actividade dos grupos poliamor conta geralmente com tres aspectos. O primeiro é a auto-ajuda (criação de redes de contactos, encontros, troca de esperiências, descoberta de identidade), o segundo a divulgação da possibilidade real de o viver quer junto de outras pessoas que com ele se identificam quer com outros, e o terceiro é a influência política na sociedade através de colaboração e negociação com organisações antidiscriminacao.
A nível internacional há muitos grupos, organisados com e sem ajuda da internet, e muitos eles estao ligados entre si. Encontros como a 1a Confêrencia Internacional sobre Poliamor e Mononormatividade em Hamburgo, em 2005, ou o Acampamento Poliamor de Verao na Alemanha procuram criar espacos de discussao, entreajuda, e definir a contra-cultura dos próximos anos.

O grupo poly-portugal
Existe há já mais de 3 anos e comecou como grupo de auto-ajuda e discussao. Alguns dos seus mais de 70 membros ocupam-se tambem com refleccao e intervencao (poly-activismo). e procuram passar a mensagem junto de outros sectores da sociedade de que o poliamor é um modo vida válido e digno de respeito.

As 1as conversas sobre poliamor
Estiveram presentes cerca de 20 pessoas, entre panteras, poly-portugal e outros.
Comecou-se por fazer uma introducao ao conceito, suas origens e significado, suas implicacoes numa sociedade que por um lado se define ou gosta de se apresentar como igualitária e justa mas cujos motores, por outro lado, eternisam e cristalisam modelos de comportamento e privilégios que muitas vezes nao reflectem de todo o modo de vida e pensamento dos seus cidadaos.
Pela limitacao do tempo, nao foi possivel aprofundar nenhum tema, mas foram muitos abordados e esbocaram-se possiveis continuacoes das conversas.
Falou-se de ditadura da escolha (ter de deixar uma pessoa por se comecar a gostar de outra), de poly-closets (pessoas com mais que um parceiro/a que teem receeio das represálias), falou-se de como a monogamia como modelo emocional em si é tao válido como outro qualquer, mas como modelo único, hegemónico, imposto e abencoado pelo Estado deve ser contestado. Falou-se de ciumes, da sua desconstrucao, da sua evitabilidade e inevitabilidade e de como em alguma parte vêm da percepcao do parceiro como "coisa" possuída; falou-se do reclamar orgulhosos de palavras previamente insultuosas, como galdéria ou vadia (slut culture, schlampenkultur) como bandeiras de um movimento que nao se envergonha da sua vida, falou-se dos papeis, formatacoes, que se colam a nós em relacoes que já veem com script incluído (marido muda o óleo ao carro e nao a mulher, a butch faz café á femme, quem tem mais dinheiro é quem fala com o advogado..), e como poliamor baralha e volta a dar todos esses papeis que deixam de fazer sentido; falou-se da diferenca entre poliamor e poligamia, e de eventuais sobreposicoes que uma pode ter em relacao á outra. Falou-se do papel do machismo na sociedade e como isso baralha a percepcao da mulher, das relacoes, e das minorias. Falou-se das diferencas, se é que as há, entre amizade e amor, se precisamos de tais distincoes (ou seja, se há mesmo estados quânticos para relacoes, ou se será possível um continuum emocional em que indivíduos criativos se deslocam). Falou-se, por fim, da bencao do Estado e do papel do casamento (testamentos, assistencia hospitalar, privilégios tributários). Falou se em familias extendidads, no papel das familias babyboomers a cunhar a ideia da família mononuclear "moderna", e falou-se em co-educacao, e em comunas e experiências sociológicas.
A jeito de conclusao apressada devido ao limite de tempo, sumarisou-se que os direitos têem de ser individuais, e que direitos associados ao casamento, que têm sido vistos e vendidos como um direito, nao passam de privilégios destinados às relações que cabem no modelo reconhecido pelo estado, e criam condicoes prefenciais apenas áqueles que o praticam, não podendo por isso ser democráticos. O que não implica que o movimento lgbt não deva hoje lutar pelo alargamento a
tod@s desses direitos e/ou privilégios, numa situação em que existe um apartheid legal que restringe o acesso aos mesmos em função da orientação sexual.
Acrescentou-se que tal ideologia, e outras, sao reforcadas apesar de cada vez mais pessoas viverem contra o paradigma.
Ficou a promessa de se repetirem eventos semelhantes, talvez noutros locais e com outros temas mais especificos.

Apelo á participacao das marchas do orgulho
Apelou-se á participacao nas Marchas do Orgulho de Lisboa e Porto. Quer pela natureza anti- discriminatoria de qualquer marcha do olrgulho, que diz respeito a qualquer pessoa que nao se reveja numa sociedade que impoe ou encoraja modelos unicos, quer pelo facto que especialmente a marcha do orgulho do porto abracou o tema poliamor e diversidade familiar e o explicita no seu manifesto, é importante participar nas Marchas.


Recursos poliamor em Portugal:
- Grupo poly-portugal:
http://www.groups.yahoo.com/groups/poly-portugal
- Portal poliamor em Portugal:
http://www.poliamor.pt.to/
- Blog Our Laundry List:
http://www.laundrylst.blogspot.com/

Outras referências
- http://en.wikipedia.org/ (poliamor/polyamory)

- "Breaking the barriers to desire", K. Lano and C. Parry (ed.).Five Leaves Publications
- http://www.diepolytanten.de.tc/ (em alemao, mas com Informacao sobre encontro poliamor de verao para mulheres e transgénero)
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http://www.graswurzel.net/243/schlampagne.shtml (em alemao, movimento "galdério")


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