1.11.2009

It's the communication, stupid!

Costuma-se dizer que a maioria dos conflitos da humanidade surge devido a falhas de comunicação entre as partes envolvidas.

As relações amorosas não são excepção. Mesmo em relações de longa data, em que as pessoas já se deveriam conhecer bem, acontecem constantemente mal entendidos que levam a conflitos e problemas, por vezes até em situações à partida inofensivas, como marcar um encontro ou decidir o que se quer fazer num domingo à tarde. Quando se pensa em decisões de rumo de vida ou em exprimir o que se quer de uma determinada relação, o potencial para conflitos futuros destrutivos é enorme, se a comunicação entre os envolvidos falhar.

Ora, se uma relação entre duas pessoas já contém riscos altíssimos de falhas comunicação, o que acontecerá numa relação poly?

A resposta para esta questão é que os riscos de mal entendidos é exponencialmente mais elevada numa relação poly, aumentando esse risco com o número de pessoas envolvidas. Esta é uma observação que fiz no contexto amoroso e fora dele, quanto mais pessoas estão envolvidas numa troca de ideias, maior é a chance de haver falhas de comunicação.

Como lidar então com o potencial de falhas de comunicação num contexto poly, quando existe uma constelação de n pessoas, por vezes havendo diferentes níveis de envolvimento entre os vários sujeitos?

Esta é uma pergunta que ainda não consegui dar uma resposta definitiva, mas na qual tenho reflectido bastante. Cheguei a uma série de princípios que aplico a mim próprio, quando estou envolvido numa determinada discussão importante para a relação. Vou tentar expô-los:

1- Tentar perceber muito bem o que se sente em relação ao tema discutido e saber o melhor possível o que se quer que saia da discussão.

Isto pode parecer simples, mas às vezes é das coisas mais difíceis de conseguir. Em muitas decisões existem muitos factores contraditórios e surgem em nós emoções que por vezes nós não compreendemos imediatamente. Se reflectirmos um pouco sobre nós próprios no contexto da discussão, será mais simples exprimir-nos e conduzir a discussão.

2- Ouvir atentamente o que os outros dizem e tentar perceber exactamente o que querem dizer. Não interpretar. Perguntar sempre que se tem uma dúvida, mesmo que não sejamos directamente interpelados.

Mais uma vez isto soa simples, mas a falha de aderir a este princípio penso ser uma das maiores fontes de mal entendidos entre pessoas. Num contexto poly isto pode ser decisivo, porque pode-se estar com pessoas que se conhece melhor que outras e há o risco de interpretar os sinais e as palavras de um como se de outro se tratassem.

3- Ser o mais sucinto e o mais objectivo possível.

Às vezes é preciso dizes coisas difíceis e duras e pode haver a tendência de andar com rodriguinhos, de tentar não magoar, acabando-se por não exprimir o que se quer ou exprimi-lo pouco claramente. Qualquer coisa que fique dita turvamente ou fique por dizer é uma bomba relógio de desentendimento.

4- No fim da discussão recapitular onde se chegou, o que se decidiu ou não e ter a certeza que toda a gente tem o mesmo entendimento acerca do que foi discutido.

Para mim o ponto mais importante. Assim toda a gente tem a oportunidade de estimar se os outros perceberam o mesmo que eles. Muitas vezes ao fazer a recapitulação percebe-se que afinal houve uma falha de comunicação nalgum ponto e é preciso de esclarecer.


Por agora chega de comunicação. Neste momento foi o melhor que consegui exprimir as minhas ideias acerca de comunicação em relações poly. Certamente estes pricípios podem-se aplicar também noutros contextos, como no trabalho por exemplo.

Claro que há muito por desenvolver e muitas surpresas na vida poderão levar-me a rever isto tudo.

1 comment:

  1. Marabilloso post, poñedes o dedo na chaga :) Gustaríame engadir, de todos xeitos, que eses problemas aparecen en calquera grupo humano, e en particular con moita frecuencia na familia "tradicional". Unha relación poly pode ser complexa, pero alomenos non funciona cos presupostos xerárquicos dunha familia, que dificultan incriblemente (ou imposibilitan) a solución dos conflitos. Nunha relación poly, a ausencia de precendentes posibilita que cada un procure as súas propias formas de comunicación e as súas propias solucións. Un saúdo dende a Galiza.

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